16 de out. de 2009

Música Negra Brasileira


Navegando pelos submundos deste universo virtual, encontrei algumas pérolas que quero dividir com meus fiéis leitores. Tratam-se de pérolas da música brasileira, álbuns que mostram como nossa musicalidade é forte e mais do que isto, como ela é negra. Sim, negra sim, como não? Desde que os primeiros escravos aportaram por aqui, vindos da África, começaram a contagiar aos portugueses com seu suingue e sua ginga. Seja como forma de protesto, seja como forma de louvar a seus deuses, ou por pura diversão mesmo, o fato é que a música sempre foi um traço forte das culturas africanas, e nós herdamos esta cultura, felizmente! A onda do momento é a mistura de estilos, e três discos demonstram bem como estas fusões são produtivas. Vamos a eles:


Homenagem aos Verdadeiros Arquitetos da Música Brasileira
O primeiro álbum que achei, na verdade eu já o tinha, apenas não tinha lhe dado a devida atenção ainda. Trata-se do acústico MTV de Macelo D2. Após anos e anos vivendo no mundo do Rock com o finado Planet Hemp, D2 resolveu seguir outros passos, e explora agora novos campos de sua musicalidade. Sua mistura de samba e hip-hop já deu bons frutos, e a maior prova disto é este álbum acústico, onde ele consegue unir os dois ritmos de forma leve e coesa, resultando num som divertido e com uma alta qualidade sonora e intelectual. Participações especiais de BNegão, Will (Black Eyed Peas) e seu filho Stephan.

Bossa Negra
A diva da música negra continua em ação: Elza Soares, numa parceria com o poeta e compositor José Miguel Wisnik, nos brinda com uma obra-prima da música negra brasileira. Do Cóccix ao Pescoço é um álbum diferente, alegre, crítico e por tudo isto belo, belíssimo. A cantora agora invereda por outros ritmos de nossa música brasileira, como o hip-hop, o dub e o soul, não deixando de lado o samba, é claro, numa mistura natural, moderna, linda. A voz de Elza Soares continua poderosa, forte, rouca, tem uma presença incrível. O teor das letras variam do romantismo à crítica social com destreza, uma crítica corrosiva, que mostra nossos preconceitos de forma nua e crua, sem máscaras, como nas músicas Haiti, regravação de Caetano Veloso, e no refrão de A Carne: "A carne mais barata do mercado é a carne negra..." Podemos destacar ainda a música Fadas, de Luiz Melodia, transformada em um tango belíssimo, Dura na Queda, de Chico Buarque, e Hoje é Dia de Festa, de Jorge Ben, dois sambas animados que introduzem bem o disco e ainda a parceria com o percussionista Marcos Suzano, em Quebra Lá que eu Quebro Cá, num dueto de voz e pandeiro com um entrosamento incrível. Disco obrigatório pra quem é fã de boa música.

Instituto da Música Boa
O Instituto é um projedo do engenheiro de som Rica Amabis e do produtor Tejo Damasceno, entre outros grandes nomes da produção nacional. O projeto alia estilos diversos, misturando samba, hip-hop, dub, reggae e outros, em excelentes parcerias musicais e líricas. Entre os convidados deste disco, intitulado Coleção Nacional, nomes como BNegão, Otto, Sabotage, Nação Zumbi, Fred Zero Quatro, Happin Hood, entre outros, ou seja, não dá pra não ouvir este disco. A parceria com BNegão e Otto, por exemplo, na faixa O Dia Seguinte traz uma letra crítica aos valores ocidentais e religiosos na voz de BNegão, e no refrão Otto com seu jeitão sombrio complementa, numa das melhores canções deste disco. Outros destaques são as faixas Na Ladeira, onde vários instrumentistas do Instituto, Nação Zumbi e Bonsucesso Samba Clube fazem um manguebeat bem levado e cadenciado, a faixa Juntando Coco traz uma versão do grupo para canções tradicionais de pernambuco, com a participação dos scratches de Kid-Coala, e por último Só Vou Deixar os Ossos traz a letra ácida e a voz inconfundível de Fred Zero Quatro, num manguebeat da mais alta qualidade. É por estas e outras que este pode ser considerado um dos melhores projetos de música de nosso país na atualidade.

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