Há tempos podemos dizer que o cinema nacional trilha caminhos próprios, encontrando sua própria identidade. Filmes de comédia que retratam os estereótipos e chavões da personalidade dos brasileiros e brasileiras, dramas que envolvem os problemas sociais e econômicos de nosso povo, até algumas ficções e aventuras, mas com o toque nacional.
Este toque é o que podemos ver no novo filme de Selton Mello, intitulado O Palhaço. Selton Mello mostra que além de um excelente ator, talvez seja melhor ainda na direção. O Palhaço conta a história de algo que é recorrente na memória do povo brasileiro: o circo. Sim, isso mesmo, aquele circo de lona, que sai rodando por várias cidades para fazer seus espetáculos, normalmente cidades pequenas e isoladas onde a maior diversão talvez seja ir à Igreja aos domingos.
Mas a vida de um circense não é nada fácil. Os dramas e dificuldades daqueles que vivem de levar alegria às pessoas é mostrado no filme, mas de uma forma bela e leve, resultando de uma comicidade única. O elenco de atores está impecável e os personagens construídos são geniais, isso sem contar os diálogos escritos, muito bem elaborados e recheados de um humor ingênuo e sutil. Uma coisa legal neste filme também são os enquadramentos, abusando de cenários estáticos sempre com dois ou mais personagens em cena, o que dá a impressão de estar vendo um quadro na tela, com os personagens durante um bom tempo na mesma posição. Repare por exemplo no diálogo da mulher do circo com Selton Mello, ou do diálogo dos integrantes do circo com o delegado.
A parte técnica do filme é outro destaque. Fotografia belíssima, trilha sonora perfeita, e um enredo simples mas que consegue segurar bem as pontas, O Palhaço já pode figurar entre os grandes filmes do cinema nacional, por aliar drama e comédia de forma tão perfeita e sem soar forçado. Selton Mello tem uma longa carreira no cinema, e a julgar por sua experiência neste filme, espero que tenha muito mais ainda.