A idéia do demônio surgiu antes mesmo da própria Igreja Cristã, e sempre foi essencial dentro de sua teologia. Segundo Carlos Roberto Nogueira,
era necessária para a coletividade cristã a existência e a encarnação do mal. Era preciso que fosse visto, tateado, tocado, para que o bem surgisse como a graça suprema - o belo e o divino, em oposição ao horrível e demoníaco.*
Assim percebemos que o demônio sempre teve lugar de destaque no imaginário cristão. Sem ele, a figura do Cristo não seria tão forte, e a graça oferecida àqueles que seguem as palavras de Cristo não seria tão suprema. Para que a moral cristã tivesse sentido, era preciso que se oferecesse a seus súditos algo a que temer. O cristianismo acaba sendo, então, infestado por uma avalanche de demônios e espíritos malfazejos. Esta consolidação do demônio ocorre por vários anos e permeia toda a história do cristianismo, se iniciando com a tradição hebraica, quando os hebreus começam a associar os deuses dos povos vizinhos a espíritos malfazejos. Conforme nos afirma Nogueira,
a principio, os primitivos hebreus não tinham necessidade de corporificar uma entidade maligna. (...) Na opinião que tinham os hebreus dos deuses estrangeiros (...), assimilavam estes deuses aos espíritos das trevas (...) e todos os deuses potencialmente adversários passaram a fazer parte integrante da corte demoníaca.*
Para os hebreus, Yaweh representava um Deus implacável, que punia e castigava a todos que cometessem faltas. Portanto, para eles, a idéia de um ser que personificasse o mal era completamente estranha e inútil. Posteriormente, com o advento do cristianismo, Deus passa a ser concebido como o bem supremo, ser superior de infinita bondade. Mas, se este Deus é todo bondade, e o mundo é obra sua, como explicar a existência de coisas maléficas em sua criação? Era preciso uma explicação para o mal, já que este não podia ser atribuído a Deus. É então que a figura do demônio ganha forças dentro da tradição cristã. Se na tradição hebraica a figura demoníaca era associada apenas aos deuses dos povos inimigos, agora ele ganha autonomia dentro da teologia cristã. A partir daí,
o universo inteiro passa a ser pintado como dividido entre dois reinos, o de Cristo e o do Diabo. (...) Dessa polarização resulta que tudo o que afasta os homens de Deus é uma manifestação do Diabo. (...) A religião cristã, assumida como a verdadeira, exclui e assimila ao Demônio todos os outros credos.*
A partir desta autonomia, a figura de satanás ganhará força ao longo de toda a Idade Média, época em que a Igreja busca se afirmar enquanto instituição do poder de Deus na Terra, e utiliza a figura do demônio para se fortalecer. O diabo estava presente em tudo e em todos. Tudo o que desviava os bons cristãos do caminho do bem, que eram os caminhos da Igreja, era atribuído ao demônio. A Igreja cria artifícios diversos para identificar, descobrir e expulsar demônios, como podemos citar os tribunais da Inquisição e os exorcismos.
Para que o fortalecimento do poder da Igreja fosse efetivo, era necessário não só a figura do demônio a tentar os homens para o caminho das trevas, mas também que este demônio fosse associado aos outros cultos, credos e práticas religiosas existentes na época. Assim as práticas mágicas das comunidades rurais européias, com suas ervas e seus sabás são logo identificados como demoníacos, e seus praticantes perseguidos e condenados às fogueiras da inquisição.
Referências
*NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. 2º Ed. Bauru: Edusc, 2002.
era necessária para a coletividade cristã a existência e a encarnação do mal. Era preciso que fosse visto, tateado, tocado, para que o bem surgisse como a graça suprema - o belo e o divino, em oposição ao horrível e demoníaco.*
Assim percebemos que o demônio sempre teve lugar de destaque no imaginário cristão. Sem ele, a figura do Cristo não seria tão forte, e a graça oferecida àqueles que seguem as palavras de Cristo não seria tão suprema. Para que a moral cristã tivesse sentido, era preciso que se oferecesse a seus súditos algo a que temer. O cristianismo acaba sendo, então, infestado por uma avalanche de demônios e espíritos malfazejos. Esta consolidação do demônio ocorre por vários anos e permeia toda a história do cristianismo, se iniciando com a tradição hebraica, quando os hebreus começam a associar os deuses dos povos vizinhos a espíritos malfazejos. Conforme nos afirma Nogueira,
a principio, os primitivos hebreus não tinham necessidade de corporificar uma entidade maligna. (...) Na opinião que tinham os hebreus dos deuses estrangeiros (...), assimilavam estes deuses aos espíritos das trevas (...) e todos os deuses potencialmente adversários passaram a fazer parte integrante da corte demoníaca.*
Para os hebreus, Yaweh representava um Deus implacável, que punia e castigava a todos que cometessem faltas. Portanto, para eles, a idéia de um ser que personificasse o mal era completamente estranha e inútil. Posteriormente, com o advento do cristianismo, Deus passa a ser concebido como o bem supremo, ser superior de infinita bondade. Mas, se este Deus é todo bondade, e o mundo é obra sua, como explicar a existência de coisas maléficas em sua criação? Era preciso uma explicação para o mal, já que este não podia ser atribuído a Deus. É então que a figura do demônio ganha forças dentro da tradição cristã. Se na tradição hebraica a figura demoníaca era associada apenas aos deuses dos povos inimigos, agora ele ganha autonomia dentro da teologia cristã. A partir daí,
o universo inteiro passa a ser pintado como dividido entre dois reinos, o de Cristo e o do Diabo. (...) Dessa polarização resulta que tudo o que afasta os homens de Deus é uma manifestação do Diabo. (...) A religião cristã, assumida como a verdadeira, exclui e assimila ao Demônio todos os outros credos.*
A partir desta autonomia, a figura de satanás ganhará força ao longo de toda a Idade Média, época em que a Igreja busca se afirmar enquanto instituição do poder de Deus na Terra, e utiliza a figura do demônio para se fortalecer. O diabo estava presente em tudo e em todos. Tudo o que desviava os bons cristãos do caminho do bem, que eram os caminhos da Igreja, era atribuído ao demônio. A Igreja cria artifícios diversos para identificar, descobrir e expulsar demônios, como podemos citar os tribunais da Inquisição e os exorcismos.
Para que o fortalecimento do poder da Igreja fosse efetivo, era necessário não só a figura do demônio a tentar os homens para o caminho das trevas, mas também que este demônio fosse associado aos outros cultos, credos e práticas religiosas existentes na época. Assim as práticas mágicas das comunidades rurais européias, com suas ervas e seus sabás são logo identificados como demoníacos, e seus praticantes perseguidos e condenados às fogueiras da inquisição.
Referências
*NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. 2º Ed. Bauru: Edusc, 2002.