Cada herói tem seu tempo. Já vi muita gente dizendo que as HQs do Homem de Ferro nunca foram das favoritas do universo Marvel. Bom, pelo que me lembro da minha infância na década de 80, realmente pouco se ouvia falar no herói. Os mainstreans eram Superman, Batman, Spiderman e começava a despontar os X-Man. Nada de Ironman. O personagem, criado na década de 60, em meio à corrida armamentista estadunidense, representava o poderio bélico dos Estados Unidos e o american way of life das elites jovens do país. Tony Stark representa tudo o que cerca a juventude que herdou o poderio industrial construído no país enquanto a Europa se digladiava em guerras: egocêntrico, arrogante, mulherengo, esbanjador, inteligente, entre outros, assim se definia o personagem. O efeito colateral de tudo isto ficava no grave problema de alcoolismo que o personagem sofria. Era o ideal do jovem moderno que não suporta o peso da vida fácil. Impressionante como tal tema continua atual.
Resgatado dos escombros das HQs, o Homem de Ferro desponta hoje como o principal herói da nova época cinematográfica dos heróis. Talvez tal sucesso se deva ao potencial de ação que o personagem sempre teve, e que nas HQs não se destacava tanto. O movimento, o som e os efeitos especiais ajudaram a coroá-lo. Mas com certeza o principal motivo é que o Homem de Ferro nunca foi tão atual quanto agora. Em uma época em que o culto à tecnologia é cada vez maior, um personagem que desenvolve uma roupa de guerra ultramoderna, recheada de recursos tecnológicos acaba se tornando o sonho de todo jovem adolescente. Podemos dizer que o Homem de Ferro nasceu com a história certa, mas na época errada. Seu período é agora.
O filme já chega à sua terceira sequência solo, sem contar o filme com os Vingadores, e se consolida como a melhor saga de super-herói atualmente, ao lado do Batman de Christopher Nolan. As razões para o sucesso são inúmeras, e agrupam tanto as mais gerais levantadas no parágrafo anterior quanto algumas mais pontuais. Primeiramente, creio que o temperamento de Stark contribui bastante: irônico, fanfarrão, brincalhão, com uma arrogância mais pro lado cômico, enfim, um personagem divertido e muito carismático. E tudo isto encarnado pelo ótimo Robert Downey Jr. Casamento perfeito. Ouso dizer que o sucesso do herói se deve quase 90% ao ator. Outros elementos ajudam a compor o personagem: sua honestidade (não consegue por exemplo esconder sua identidade secreta, embora isto muito tenha a ver com seu estrelismo também), e sua lealdade (mesmo que muitas vezes ele tente parecer se preocupar somente consigo mesmo, no final sempre ajuda a quem está ao seu lado).
Outro elemento que ajuda na consolidação do personagem é a constância dos filmes. Todos mantém a qualidade lá em cima. Este terceiro não poderia ser diferente. Roteiro bem escrito, com surpresas, cenas de ação, conflitos do personagem, enfim, está tudo lá. Os produtores fazem o dever de casa e acabam acertando em cheio. A conexão do Universo Marvel também é outro ponto alto, e neste caso a empresa está dando um banho na sua concorrente, que até agora não conseguiu um meio de unir seus personagens para fazer surgir a Liga da Justiça. No universo Marvel tudo caminha de forma natural. Apesar de não aparecer nenhum personagem dos Vingadores no filme, a influência da história que foi desenvolvido no filme dos heróis está o tempo todo presente na história deste Homem de Ferro. As referências a ele estão sempre lá, o que torna tudo mais plausível, já que simplesmente ignorar a história dos Vingadores, como se as histórias individuais se passassem em um universo paralelo deixaria tudo muito implausível. Afinal, não dá pra se esquecer de alienígenas invadindo a Terra e sendo combatido por um cientista monstro, um deus nórdico, um super soldado dos anos 40 e um robô super destrutivo.
O grande barato desta nova fase da Marvel é ver como os filmes se complementam. Possivelmente o próximo filme dos Vingadores levará em conta os elementos mostrados nos vários filmes individuais de seus heróis, fazendo com que todos sejam uma grande continuação e mantenham a dependência uns dos outros. Mais ou menos como era na época dos quadrinhos, em que você tinha que acompanhar várias histórias para conseguir entender o que estava acontecendo. Ao mesmo tempo que é um jogo de marketing genial (fazendo com que os fãs tenham que ver todos os filmes da saga, mas também não impedindo que aquele que acompanha apenas esporadicamente assista apenas um filme e o entenda, pois eles mantém uma certa independência uns dos outros), também é o que os fãs querem ver: seus heróis favoritos em constante conexão uns com os outros. E que mais filmes venham por aí!
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