Ontem sai para comprar alguns livros. Este ano peguei uma disciplina nova na faculdade, e preciso montar uma matriz de textos para fornecer aos alunos. Escolhi quatro livros, e foram quase 200 reais em compras. O conhecimento, para a maioria da população, ainda custa caro. Me lembrei de quando era estudante de graduação, economizando para conseguir tirar as xerox dos textos que os professores passavam, e que não eram poucos. Hoje agradeço aos textos que eles passavam. Certa vez peguei uma disciplina na faculdade que nunca tinha dado aula. Desesperado atrás de textos para passar aos alunos, fui pesquisar nos meus materiais de faculdade, e havia uma caixa inteira só com textos desta matéria, que eu havia xerocado na época da graduação. Nessa hora vi o valor de se acumular material, e agradeci mais uma vez aos meus mestres.
Mas este esforço todo que nós professores fazemos para adquirir, selecionar e repassar aos alunos os textos que achamos pertinentes e que irão contribuir para sua formação me fez pensar nos nossos alunos. Quando me lembro das barbaridades que já ouvi de alguns, começo a repensar minha prática enquanto profissional do ensino. O perfil de alunos das universidades brasileiras mudou bastante ao longo dos anos. E no caso das licenciaturas, mudou ainda mais. É cada vez mais desvalorizada a profissão de professor, e esta afirmação não é um senso comum. Basta pegar as estatísticas. Isto faz com que, na maioria dos casos, os cursos de licenciatura sejam recheados de alunos que não querem atuar enquanto profissionais da educação. Sempre que pergunto aos alunos do primeiro ano do curso por que eles escolheram fazer história, as respostas são basicamente as mesmas: "queria fazer direito e não passei", "pra fazer concurso", "por falta de opção", etc. E quando se pergunta quem quer dar aulas, a resposta é mais sintomática ainda. Até hoje não encontrei nenhum, eu acho. Ou se encontrei eram tão poucos que nem me lembro.
Na maior parte dos casos, este perfil de aluno acaba pedindo por uma formação medíocre. Isto se reflete no dia-a-dia em sala de aula. A reprovação é condenada. Professores são perseguidos nos corredores como "vilões que só querem ferrar com a minha vida". Não se reflete sobre "o que eu fiz de errado?" Não há esforço em ler os textos, em discutir seus conteúdos. Busca-se apenas o caminho mais fácil. Perdem horas pensando em maneiras de tirar a nota da maneira mais fácil possível, perdem horas tentando convencer o professor que o trabalho medíocre que fizeram deve ser melhor avaliado. Horas que, se aplicadas da maneira certa, ou seja, lendo, resumindo, fazendo anotações dos textos, seria melhor aproveitada. Mas o esforço intelectual é penoso demais para eles. Há exceções, claro, e são estes que nos fazem continuar, me fazem pensar que vale a pena. Aos demais, uso-os apenas para afiar uma das características que mais admiro no ser humano: a ironia.
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