Conceito corrente nas ciências humanas, a modernidade é como uma áurea que envolve a todos nós. Ideologia concebida desde o início do período industrial, associada ao progresso e ao desenvolvimento, ela passou a ditar os padrões artísticos, econômicos, arquitetônicos, de valores, gostos e muito mais. Hoje em dia dizer que algo é moderno é um elogio sem contra-indicações. Mas ao longo da história tais padrões ditos como modernos foram se modificando bastante, de modo que o que ontem era símbolo da modernidade, aos poucos foi se transformando e sendo associado ao arcaico e ultrapassado, mostrando como os valores e padrões são dinâmicos, e não podem ser absolutizados.
A palavra colonial, por exemplo, já foi associada a progresso e desenvolvimento. Hoje comporta sinônimos como tradicional, conservador, retrógrado. O discurso que associa o colonial ao passado surge com o nascimento da república em nosso país, e a partir dela há uma busca desenfreada por esse tão falado "moderno". Tudo isto se reflete nas artes, na arquitetura dos prédios, no projeto das cidades. As cidades que antes simbolizavam o progresso, a riqueza e a ostentação, agora são associadas ao atraso, e precisam ser superadas.
Esta é a história de muitas cidades de nosso país. Nós goianos conhecemos bem esta história ao nos voltarmos para nosso passado e encontrarmos os fatos ocorridos na construção de Goiânia e a mudança da capital da antiga Vila Boa (atual Cidade de Goiás), para esta nova cidade que surge. Mas Goiás é apenas uma repetição do que aconteceu em Minas Gerais um pouco antes. A mudança da capital da antiga Vila Rica (atual Ouro Preto) para a nascente Belo Horizonte, cidade planejada e construída para ser um símbolo da modernidade, deixando a Ouro Preto a pecha de cidade atrasada, símbolo do arcaísmo.
Tais valores e tal história transbordam das duas cidades. Ao visitá-las parece estarmos vivendo a história (que me perdoe Marc Bloch, mas neste caso é quase como se estivéssemos fazendo reviver o passado). Ouro Preto é a cidade da ostentação, da riqueza, lá podemos perceber como a extração de ouro na região moldou o padrão arquitetônico da cidade, que aliado ao exibicionismo do estilo barroco, fez da cidade um verdadeiro museu a céu aberto. As igrejas esbanjam monumentos, pinturas, altares ricamente entalhados, telhados belamente pintados, tudo isto compõe a paisagem de Ouro Preto. A riqueza de detalhes é de impressionar. Figuras importantes da história de Minas, como Aleijadinho e Tiradentes são reverenciados a cada esquina, nos museus e lojinhas de lembrancinhas para turistas.
Assim também é a pacata Mariana, primeira capital de Minas Gerais, cidade do século XVII que possui importante sítio arquitetônico colonial, muito menor que Ouro Preto mas não menos interessante. A diferença entre ambas está na movimentação da cidade. Apesar de tradicional e colonial, em Ouro Preto não cabem adjetivos como pacata, parada ou tranquila. A cidade tem um movimento intenso de carros, de pessoas, estudantes que a procuram por ser ela um importante pólo universitário da região, graças à UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). Um burburinho de vozes, pessoas, guias turísticos com suas ofertas, moradores, enfim, compõem o quadro desta cidade, que poderíamos classificar como uma cidade que nunca para, parafraseando a cidade de São Paulo.
E por falar em não parar, eis que chegamos a Belo Horizonte. As ladeiras dão lugar às ruas planas, as vielas são substituídas por ruas largas, os prédios coloniais são deixados de lado, e em seu lugar surgem arranha-céus, das lojinhas pra turistas surgem os shoppings, dos museus dedicados ao passado surgem obras arquitetônicas que celebram o presente. Belo Horizonte é um vai-e-vem de carros e pessoas, uma cidade planejada e executada, que cresceu tanto que hoje já não se cabe mais em si, aglutinando e se confundindo com as cidades vizinhas, integrando assim um enorme pólo industrial. A grandiosidade das duas cidades aqui chama a atenção e nos faz vislumbrar seu passado e quase vivenciar sua história.
Uma verdadeira aula, melhor que ler todos os livros do mundo. Aqui o passeio se confunde com estudo, e acabamos conhecendo um pouco mais de nosso país, nossa cultura e nossa história. Tudo isto transforma o passeio a Minas Gerais em um passeio único, inigualável, e que deveria ser feito por todos, por cada um de nós. Voltamos impregnados de sensações e impressões, histórias pra contar e fatos que nos marcam. Assim é visitar Minas.
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