17 de out. de 2011

Dias Cinzas

Gosto dos dias cinzas. Eles dão um ar de tristeza a nossa volta, tudo fica mais sóbrio, sério, melancólico. Talvez seja apenas reflexo do que sentimos por dentro. Quando pequeno eu gostava de imaginar que o dia refletia o que estava sentindo. Se estava triste, o dia ficava triste. Hoje voltei a ter esta sensação. A sensação de que tudo está fora do lugar, sensação de vazio, solidão. Solidão em meio à multidão. Isto nos dá um sentimento de impotência, desamparo.
Olhamos para o lado e não vemos ninguém, ninguém em quem confiar, nem pra desabafar. Com o tempo este sentimento só vai se intensificando. Nos acostumamos a ele. Nos acostumamos com tudo, por pior que seja. Uma vez conheci uma mulher que sentia dores de cabeça constantes. Perguntei se ela estava sentindo naquele momento, ela respondeu que sim, mas que nem ligava mais, já havia se acostumado. Fiquei pensando sobre esta nossa capacidade de se adaptar, se acomodar com o que incomoda. Nos acostumamos até com a dor. E com o tempo já nem choramos mais. As lágrimas secam, e até parece sentirmos falta delas. Pelo menos quando chorávamos estávamos colocando algo pra fora. Agora tudo se prende aqui dentro, e sentimos como se fôssemos explodir. Há tempos não sentia tudo isto, mas tem dias que o mundo parece desabar sobre nós. Procuramos um lugar seguro mas só vemos ruínas. Ruínas de algo que já foi belo, algo que um dia já fora palco de nossa vida, e não tivemos tempo (nem paciência) de reconstruir. Seguimos assim com as feridas, nos acostumamos a elas. Mas um dia elas voltam a doer, e então nos lembramos. Hoje é este dia. O dia em que as feridas mandam seu recado, para percebermos que elas ainda estão lá. Olho ao meu redor. O dia começa a chorar, e por um instante me deixo ficar entre suas lágrimas. Como se fossem minhas. 

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