6 de jun. de 2011

O Procurado


Wanted é um arrasa-quarteirão pós-matrix. Ou seja, um filme que nem podemos dizer que seja mentiroso. Pois a onda agora não é brincar com a possibilidade de fazer carros voarem ou brucutus reinventarem o modo de matar 10 bandidos de uma vez a cada cena, como fazem os Bruce Willis, Tom Cruises, 007's e, mais recentemente, Jason Stathans da vida. A nova onda agora dos filmes filosófico-teológico-pós-modernos-apocalípticos-de-ação é reinventar a realidade para que tudo isto seja não só possível, como completamente crível.

Filosoficamente falando, é isto o que fez Matrix por exemplo. Não podemos dizer que o fato de Neo voar ou fazer tudo o que faz seja mentira. Estas pequenas estripulias são meros detalhes diante do fato maior criado genialmente pelos irmãos Wachowski: o fato de que eles criaram uma nova realidade para inserir seus personagens. Ou melhor, eles elevaram a nossa realidade a um patamar acima. O que vemos não é o que vemos; o que sentimos não é o que sentimos. Assim sendo, os limites que nos são impostos não são fixos, e podem ser quebrados. Isto cria uma nova lógica para o mundo que conhecemos, cria novas regras e novos limites além das leis da gravidade ou da inércia.


Vários outros filmes seguem esta mesma lógica, inserindo elementos fantásticos em nossa realidade (super-poderes, criaturas sobrenaturais, etc.), mas a meu ver, nenhum tinha promovido uma alteração tão radical quanto Matrix, e nenhum diretor nunca tinha sabido utilizar este elemento para fazer cenas de ação tão incríveis quanto ele. Por isto ele fez tanto sucesso. E também por isto, ele é tão copiado. Bom, na verdade, bem menos do que eu gostaria, haja visto que são poucos os filmes que conseguem um resultado tão bom quanto ele. A série russa dos Guardiões do Dia e da Noite é um exemplo bem sucedido desta tentativa, com cenas mirabolantes e efeitos especiais estonteantes, além de um enredo bem construido e que, ao contrário dos filmes americanos, não endeusa seu herói como o mais fodástico dos homens (no começo estranhei isto, mas depois percebi que a proposta do filme era essa mesma, e achei isto genial).



E o sucesso da série acabou fazendo com que Hollywood trouxesse o diretor russo para o lado negro da força. O resultado disto pode ser conferido no arrasa-quarteirão Wanted, em português lançado como O Procurado. O filme conta a história de Wesley (James McAvoy), um jovem que vive uma vida normal e tediosa, até conhecer a belíssima Fox (Angelina Jolie) e descobrir que seu pai que ele nunca conhecera havia sido membro de uma Fraternidade de Assassinos, tendo sido ele mesmo assassinado por um de seus membros, que se rebelou contra a Fraternidade. Wesley entra então em um novo universo, e descobre ter habilidades que jamais sonhara. A exemplo de Matrix, aqui vemos balas fazerem curvas, carros voando pelos ares e muitas, mas muitas cenas de ação no melhor estilo forçadas, mas muito bem executadas. Se o que eles queriam era impressionar, realmente conseguiram. Os efeitos visuais são bem utilizados e o que vemos em tela é um show de estripulias e cenas que desafiam a lógica, exatamente como promete todo o marketing feito em cima do filme.



Claro que, se pensarmos muito, a idéia do filme como um todo nos soará um tanto ingênua, à beira do ridículo. Afinal, um grupo de assassinos que recebe ordens de um tear mágico não é uma premissa das mais, digamos, engolíveis. Mas confesso que não me preocupei muito com isto enquanto assistia ao mesmo. Ao invés disto, tentei curtir cada cena, cada bala torta atirada, cada vôo de carro realizado. E o que posso dizer é que me diverti um bocado assistindo a este filme. Com as cenas, com o leve toque de ironia, quase humor negro de algumas partes, e até com a manjada transformação de nosso personagem principal, do mané sacaneado para o brucutu fodão que detona o que vê pela frente, e sua mais manjada ainda "vingança" contra aqueles que sempre o sacanearam. Me dei o prazer de esquecer por um instante as complexas e intrincadas análises críticas de minha pretensão a cinéfilo e compartilhar com o restante do cinema, os meros mortais, de um sentimento de completa satisfação pessoal e íntima ao ver Wesley gritar com sua chefe, ou meter o teclado na cara de seu "amigo" que comia sua namorada. E no final, o resultado não poderia ser melhor. Diversão garantida, do início ao fim.

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