Era inevitável. O novo filme de Batman - O Cavaleiro das Trevas se tornou um clássico. E todos os méritos se devem a Christopher Nolan, o jovem diretor desta nova franquia em ascensão. Nolan conseguiu reformular a proposta do herói, deixá-lo mais próximo dos quadrinhos e torná-lo o super-herói mais rentável da atualidade. Podemos dizer que Batman chegou à maturidade. Pois o que vemos neste novo filme da série é exatamente isto: um herói maduro, bem acabado, que faz o que é necessário para a cidade que protege.
Desde o filme anterior, o herói está mais sombrio, menos colorido. Isto lhe deu um toque de realismo em relação aos filmes da série anterior, que com o tempo foram ficando cartunizados demais. Esta nova série tenta resgatar toda a escuridão dos primeiros filmes clássicos de Tim Burton, e vão além: mostram que Batman não tem limites, e que é um herói disposto a sacrificar tudo, até a si mesmo para proteger seus ideais. Mas Batman não está sozinho nesta nova saga. Como já nos mostrou Shyamalan, para que haja um herói, é preciso sua antítese. E quanto maior ela é, mais grandioso nosso herói se torna. Pois aqui, sua antítese é colossal, é grandiosa, e completamente insana. Claro que estamos falando dele, talvez o personagem que irá entrar definitivamente para a história como o maior vilão de todos os tempos. Estamos falando de Joker, ou como nós o conhecemos: o Coringa!
Mas talvez o nome original seja mais apropriado para nos dar uma idéia do que ele é capaz. Joker, que no inglês, além de servir para identificar a carta de baralho que conhecemos como coringa, também significa algo como o "piadista". Pois é exatamente isto que o Coringa é. Um piadista, que torna o filme todo uma tremenda piada... de extremo mal gosto. Coringa é o vilão que a cidade de Gotham merece. Insano, psicótico, alucinado, incendiário, assassino, caótico, mas sem jamais perder a piada. Assim é o Coringa, um cara sem nada a perder e querendo apenas uma coisa: "watch the world burns"... como diz Alfred em um trecho do filme. Para um vilão tão complexo, o brilhantismo de um jovem ator. Pois Heath Ledger está a altura de tal tarefa: interpretar o Coringa e conseguir transparecer tudo isto o que eu disse aqui. E ele consegue com sobras. E não digo isto apenas porque o ator morreu. Bom, talvez isto influencie um pouco na minha avaliação. Mas mesmo assim a mantenho: Ledger está impecável na pele do impagável Coringa. Com uma maquiagem menos, digamos, "arrumadinha" do que seu predecessor, tornando o vilão com um ar mais psicótico e insandecido, e com gestos e trejeitos na medida entre o cômico e o insano, Ledger consegue levar a cabo sua tarefa com maestria e brilhantismo ímpar, e literalmente roubar a cena do próprio Batman.
Mas Ledger não está sozinho. Junto com ele temos um elenco de peso, responsáveis por fazer deste filme um sucesso absoluto na categoria belas atuações. A começar pelo próprio Batman. Christian Bale parece ter sido a melhor escolha para interpretar o jovem Bruce Wayne. Seguro, simpático e ao mesmo tempo rude quando necessário, mas sempre sem perder a elegância, o jovem consegue encarnar os dois lados de Wayne com maestria: a simpatia e bem-vivança do jovem sr. Wayne, e a sombriedade e rudeza do herói mascarado. Ao seu lado temos um Michael Cane corretíssimo na pele de Alfred, mais que seu mordomo, seu amigo e segundo pai, poderiamos colocar assim; Morgan Freeman, sempre competente interpreta Fox, outro assistente fiel, responsável pelos "brinquedinhos" do herói e por manter as empresas Wayne a salvo de possíveis aproveitadores ou chantagistas. Falta falarmos de Gary Oldman, o agora comissário Jim Gordon, que está sempre ao lado de nosso herói, e da jovem Maggie Gyllenhall, que interpreta de forma belíssima a srta. Rachel Dawes, me fazendo até esquecer de sua antecessora, Kate Hudson.
Mas a grande surpresa deste filme, como Cillian Murphy no anterior, foi Aaron Eckhart. Que ele é um ótimo ator eu já sabia. Mas que ele ia encarnar tão bem o personagem do promotor público Harvey Dent, com isto eu não contava. Aaron se mostrou a escolha perfeita para o personagem, e soube de forma magistral mostrar as duas caras de seu personagem. Harvey Dent, ou Harvey Duas-caras, como é mais conhecido, é um dos personagens mais ricos e complexo dos quadrinhos. Não se trata de um vilão qualquer, mas de um dos vilões mais humanos de todos os tempos. Enquanto o Coringa é a insanidade em pessoa, Dent é a paixão. Ele não é uma má pessoa, pelo contrário, é um jovem idealista e que acredita na justiça. Mas seu caráter extremamente passional o leva a querer a justiça a qualquer preço, e quando ele perde o que mais amava em sua vida, passa a fazer justiça com as próprias mãos. É nesta hora que Aaron mostra a que veio, conseguindo levar seu personagem de um simpático e enérgico político a um temido e vingativo vilão.
Tudo isto já bastaria pra fazer deste filme um clássico. Mas o que vemos em tela é mais, muito mais do que isto. Vemos ação, muita ação, um Batman que não hesita em fazer o que for possível para salvar seus concidadãos, mesmo que pra isto tenha que ir contra aqueles que estão ao seu lado; temos um história densa, tensa, inteligentemente bem construída, fazendo deste filme mais do que um filme de super-herói qualquer; temos emoção, Nolan sabe brincar com nossas emoções como ninguém; e claro, temos humor, muito humor, afinal, um filme com um personagem chamado "Joker" não pode ser "so serious"... E isto ele tem de sobra, entremeado nos excelentes diálogos, nas cenas mais improváveis, e, claro, na postura do Coringa, que em nenhum momento deixa seu lado irônico e sarcástico de lado. Tive que assistir ao filme duas vezes para conseguir apreciar todas as expressões, olhares e dizeres do personagem. Simplesmente fantástico. Por tudo isto já dito, fica claro que o Cavaleiro das Trevas veio pra ser o filme do ano, e desde agora já é, de longe, não só o melhor filme do herói, como de todos os super-heróis já realizado, em minha humilde opinião.