27 de jul. de 2010

Já não se fazem mais infâncias como antigamente...

Há muito tempo temos visto uma cada vez maior "adultização" dos filmes infantis. Ou seria melhor falar em uma "infantização" dos adultos? Acho que se tratam de dois fenômenos diferentes, que apesar de interligados, podem ser analisados em separado. A "infantização" talvez tenha vindo primeiro. Digo talvez, pois discutir quem veio primeiro neste caso é quase como a história do ovo e da galinha. Mas de certa forma, podemos supor que os gostos dos adultos por filmes infantis tenha feito com que os temas abordados por estes tenham se complexificado cada vez mais.

O que vemos atualmente é uma geração de adultos que cresceram jogando vídeo-game e acessando a internet, o que acabou preservando neles de certa forma hábitos "infantis". Um adulto e uma criança podem ter uma distância grande em termos de maturidade e experiência de vida, mas isto tudo desaparece quando colocamos um adulto de 25 anos e uma criança de 10 frente a frente em uma disputa num game qualquer. Os games e a internet deixam os adultos mais próximos do universo infantil, e é cada vez mais distante a noção de "universo adulto" e "universo infantil".

Os filmes de animação, que substituiram os clássicos desenhos em longa-metragem absorveram esta "infantização" dos adultos, e passaram a se tornar cada vez mais elaborados e cada vez menos apropriados para seu público original. Lembro-me por exemplo quando assisti ao filme "Horton e o Mundo dos Quem", e ficava imaginando que criança entenderia a relativização da noção de grande e pequeno inserida no filme ao mostrar que dentro de um grão existiria um universo inteiro habitado por criaturas em miniatura, como na teoria dos fractais. Inúmeros outros filmes de animação trazem temas complexos e piadas tão elaboradas que uma criança de 10 anos dificilmente entenderia.

É o caso do último filme de Shrek, "Shrek para Sempre". Primeiramente o filme traz uma situação bastante comum na vida dos adultos: um homem insatisfeito com sua vida de casado, saudoso de seus tempos de solteiro e da liberdade que tinha então. Este é o estopim do filme, e como exigir de uma criança que entenda tal sentimento? Impossível, eu diria. Esta insatisfação dá início aos fatos que culminarão na criação de um universo paralelo onde tudo o que Shrek conhece está modificado. Universos paralelos, lendas e mitos que estão longe do universo infantil brasileiro tornam tudo ainda mais distante dos pequenos. Sem contar os diálogos do filme, alguns tão elaborados e com referências tão sutis que acho que nem muitos adultos conseguem acompanhar.

Fiquei reparando nas crianças presentes na sala durante a exibição e pude constatar este distanciamento do filme do universo infantil. A maioria não estava entendendo nada do que ocorria na telona. Alguns choravam, outros pediam pros pais pra irem embora, e a maioria crivava os pais de pergunta a cada acontecimento, pedindo explicações para o que ocorria em cena, coisa que não deveria acontecer em uma situação normal. Talvez este fenômeno seja um reflexo de nossa sociedade atual, e creio ser irreversível. Resta saber se nossas crianças se adaptarão a isto e conseguirão acompanhar estes filmes, causando assim um amadurecimento cada vez mais precoce por parte delas. De qualquer forma, o que podemos concluir nesta história é que já não se fazem mais infâncias como antigamente...

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