
"A Biodiversidade do Mangue e a Revolução Musical de Chico Science
Nos últimos 20 anos o efeito Globalização vem cada vez mais penetrando na sociedade brasileira em todos os seus níveis. Aparentemente o que este projeto propõe é a massificação de todos os indivíduos em torno de culturas globais, ficando assim mais fácil de serem atingidos pela mídia. A aniquilação do individualismo e do regionalismo seria o resultado obvio deste projeto.

Mas em alguns casos, esta influencia globalizante ao se deparar com o regionalismo acaba produzindo interessantes fusões musicais. É o caso do Nação Zumbi, que vai muito mais alem do que resistir à massificação; ele incorpora os elementos modernos ao som regional; as guitarras distorcidas do Rock são aliadas com a batida do Maracatu, resultando num som único e bastante interessante. Esta é, portanto, a primeira característica a ser destacada na música de Chico Science: a aglutinação. Não se trata de um grupo de resistência à massificação, mas sim um grupo que mostra que e possível aliar diversas influencias e aproveita para fazer uma revolução musical criando assim um novo estilo: o chamado Mangue Beat.
Esta expressão representa bem o projeto do grupo. O Mangue é a vegetação típica de Pernambuco, a lama onde vivem os caranguejos, e de onde muitos homens tiram seu sustento. Beat é a batida forte da música, do Rock, do Maracatu, que se fundem na música do grupo. Trata-se, portanto, não só de uma revolução musical, mas também de uma atitude critica em relação aos problemas vividos pela cidade do mangue: Recife.

Para entendermos esta proposta o elemento chave é a cidade de Recife. Trata-se de uma cidade de opostos, onde a opulência convive lado a lado com a miséria. Este é um dos pontos mais tratados na musica do Nação Zumbi. Recife é considerada hoje a cidade mais violenta do Brasil, e a 4º pior cidade do mundo, como eles afirmam em uma de suas músicas:
"É só uma cabeça equilibrada em cima do corpo
Escutando o som das vitrolas, que vem dos mocambos
Entulhados a beira do Capibaribe
Na quarta pior cidade do mundo
Recife, cidade do mangue
Incrustada na lama dos manguezais
Onde estão os homens caranguejos"
A Biodiversidade do mangue se torna aqui uma das palavras-chave. A convivência do moderno com o periférico, o popular. Chico Science está no meio de tudo isto. Ele é o resultado desta fusão, e isto se reflete nas músicas da Nação Zumbi. Isto é o movimento Mangue Beat, uma simbiose entre o moderno e o popular. Não possuem eles um caráter nacional, mas sim uma ponte entre o regional e o global. Trata-se de uma rede, um cruzamento de muitas referências. Escutando o som das vitrolas, que vem dos mocambos
Entulhados a beira do Capibaribe
Na quarta pior cidade do mundo
Recife, cidade do mangue
Incrustada na lama dos manguezais
Onde estão os homens caranguejos"

A afirmação destes garotos de periferia se dá enquanto "caranguejos com cérebro", com o caranguejo representando os homens que vivem no mangue, na lama do Recife. Seria então uma afirmação da identidade regional, mas já influenciada por elementos urbanos. Como uma das principais musicas do grupo afirma, eles vivem numa Manguetown.

Referências Bibliográficas
KEHL, Maria Rita. Da Lama ao Caos: a invasão da privacidade na música do grupo Nação Zumbi. In EISENBERG, José; STARLING, Heloísa Maria Murgel e CAVALCANTE, Berenice. "Decantando a Republica, V. 3: inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira". Rio de Janeiro: Nova Fronteira; São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2004.
Referências Discográficas
CHICO SCIENCE & NAÇAO ZUMBI. Afrocyberdelia. Rio de Janeiro: Chaos/Sony Music, p1996. 1 CD.
_____________. Da Lama ao Caos. Rio de Janeiro: Chaos/Sony Music, p1994. 1 CD."