Nunca o cinema de ficção científica esteve tão voltado para o gênero de ação apocalíptico. Filmes que preconizam o extermínio quase total da raça humana estão cada vez mais em voga. Após se voltarem para ameaças alienígenas (Independence Day, Guerra dos Mundos), guerra contra máquinas (Exterminador do Futuro, Matrix), explosões ou guerras nucleares (Mad Max), agora o cinema se volta para uma ameaça biológica: vírus mortais que dizimam grande parte da população terrena.
Um dos clássicos desta temática é o filme 12 Macacos, do diretor Terry Gillian. Terry ficou famoso após participar do projeto Monty Pythom, cujo filme Em Busca do Cálice Sagrado acabou se tornando clássico do cinema de comédia-paródia. Pois aqui em 12 Macacos, Terry troca a comédia pastelão pela ficção científica da melhor qualidade, continuando na trilha de seu filme anterior, Brazil. A diferença é que aqui a ficção de Terry se mostra mais madura, menos exagerada do que no filme anterior, apesar de sua concepção de futuro em ambos os filmes se parecerem bastante. 12 Macacos se inicia no ano de 2035, quando a humanidade havia sido praticamente toda exterminada por um estranho vírus, e os únicos sobreviventes viviam embaixo da terra para evitar a contaminação. Para tentar estudar o virus e assim conseguir encontrar uma cura, cientistas enviam um prisioneiro ao ano de 1996, ano em que o virus teria se espalhado, para coletar uma amostra do virus em estado puro.
Assim começa a viagem de James Cole, interpretado por Bruce Willis, que logo descobrirá que sua tarefa não será tão fácil quanto esperava, e encontrará muitas surpresas. Após ser considerado louco pelas pessoas do passado, Bruce começa a duvidar de sua sanidade, e além da viagem no tempo, passa a viver uma estranha viagem psicológica. Assim Terry vai construindo sua trama psicológico-temporal, cuja infecção viral serve de pano de fundo. Destaque ainda para a participação de Brad Pitt como um louco, em uma das melhores atuações de sua carreira. Neste filme, todos os elementos dos filmes de ficção apocalípticos estão presentes. Ele apresenta uma versão pessimista do futuro, onde não há esperança para a humanidade.
Alguns anos depois o tema seria retomado por dois filmes do gênero ação-terror, lançados em 2002. Um deles foi baseado em um jogo de sucesso da Capcom. Estamos falando de Resident Evil - O Hóspede Maldito, onde uma indústria tenta desenvolver uma arma de guerra letal. Eles desenvolvem então um vírus capaz de reviver as pessoas. Só que o virus transforma as pessoas em Zumbis acéfalos e inúteis. Antes que pudesse aperfeiçoá-lo, o virus sai do controle e extermina todos na corporação. Neste primeiro filme, um grupo de soldados é enviado à corporação para investigar o que houve, e terão que matar muitos zumbis para sobreviverem. Mila Jovovich interpreta Alice, uma ex-funcionária da empresa que havia perdido a memória, e comanda o grupo.
Mas é nas continuações desta série que o bicho pega. Em Resident Evil 2 - Apocalipse, é mostrado como o vírus se espalha pela cidade após outro grupo de cientistas abrirem a empresa e liberarem o virus. Logo a cidade inteira está infectada, e Alice terá novamente que comandar os poucos sobreviventes para conseguir escapar, já que o governo manda isolar a área e soltar uma bomba atômica para conter a infecção. Além disto, Alice sofre uma estranha mutação, e ganha estranhos poderes psíquicos e físicos. Logo ela descobre que foi infectada com uma alteração do virus, que lhe dá poderes sem transformar-lhe em zumbi. Mas a quarentena não adianta. Logo o mundo inteiro é devastado pela infecção, se transformando em um imenso deserto. Este cenário é mostrado no terceiro filme da série, Resident Evil 3 - A Extinção. Os poucos sobreviventes viajam pelo deserto tentando sobreviver, enquanto os cientistas que desenvolveram o virus vivem embaixo da terra e buscam uma solução para controlar o virus. A fotografia do filme se parece muito com as do clássico Mad Max. Aqui Alice está mais fodona do que nunca, no filme mais violento e sanguinário da trilogia.
Outro filme que resgata o tema é ainda mais brilhante do que este. Em Extermínio, um vírus mortal é liberado após um grupo de ativistas soltar um grupo de macacos que estavam servindo de cobaias em experiências genéticas na Inglaterra. Os cientistas tentam avisar que os mesmos estão infectados com uma espécie de virus da raiva, mas os ativistas não lhes dão ouvidos. Até agora nenhum filme tinha mostrado o "fim" da raça humana de forma tão forte e impactante quanto este. 28 dias depois (28 Days Later é o nome original do filme) da primeira infecção, um jovem entregador (Jim, interpretado pelo jovem ator britânico Cillian Murphy) acorda em um hospital totalmente vazio. Ao sair nas ruas, encontra uma cidade totalmente vazia. A cena é antológica, aquele vazio, o silêncio na cidade de Londres, a cena dura mais ou menos uns 2 minutos assim, só o vazio e o silêncio, dando uma sensação de vazio muito grande. Imagine se de repente você acorda e não há ninguém nas ruas, o mundo todo como que parado, é uma sensação muito estranha, e o filme consegue passar isto de forma perfeita. A partir daí o filme se desenvolve lentamente, aos poucos vamos descobrindo novas perspectivas, os infectados são espécies de zumbis, só que com uma injeção de adrenalina, os caras são monstruosos, raivosos, insanos. Insanidade, esta é a melhor palavra para descrever a situação.
Assim, de forma lenta, o filme consegue criar uma tensão, mostrar situações inusitadas, o que 4 pessoas totalmente desconhecidas fariam numa situação destas? O filme mostra que a humanidade ainda está lá, que ainda temos uma esperança.O paradoxo das cenas ajuda a chamar atenção. O filme vai do insano ao singelo num piscar de olhos. Em uma cena os quatro estão desesperados tentando trocar o pneu do carro antes que os infectados cheguem. A cena é desesperadora. Na cena seguinte, eles estão se divertindo fazendo "compras" no supermercado. Uma cena de uma singeleza sem tamanho, emocionante. Assim Danny Boile consegue conduzir bem sua epopéia, tirando da platéia as emoções mais humanas possíveis, num cenário totalmente desolador. E quando achávamos que nada mais podia ser tirado dali, eis que ele tira um coelho da cartola: um grupo de soldados sobreviventes, que vivem isolados, e tem um plano que beira a insanidade.
Danny Boile consegue mostrar que a humanidade, ainda com tudo destruido, ainda com tudo perdido, ainda assim é humana. E como humana, os sentimentos mais vis ainda fazem parte dela. E nossos personagens descobrirão isto da pior maneira possível. Mas o grande destaque desta obra-prima se chama Cillian Murphy. O jovem ator inglês está simplesmente demais, ele destrói com sua atuação. Podemos perceber claramente a evolução de seu personagem, de um simples entregador, de repente inserido em um cenário totalmente apocalíptico, até descobrir que seu pior inimigo não são os infectados, mas a própria raça humana. Depois disto o cara se torna o demônio em pessoa, suas cenas de fúria são insanas, mais insanas que os próprios infectados, o cara se torna um vingador em sua fúria avassaladora. A cena final quando ele mata o último soldado demonstra isto, uma fúria incontrolada, que corresponde à própria fúria despertada no espectador contra os soldados. O cara consegue fazer isto sem soar forçado, sem se transformar num super-herói, não, o cara é apenas um entregador que de repente se vê humilhado e vê seus laços de amizade e amor serem ameaçados por um bando de soldados chauvinistas. Muitos poderão dizer que esta parte é moralista, ou algo do tipo, mas para mim ela é humana, demasiado humana.
Outro destaque é a trilha sonora, excelente, incomum para filmes deste estilo, as músicas mais parecem saidas de um clipe de uma banda Indie, mas se encaixam perfeitamente neste cenário, mostrando que um filme de suspense de verdade não precisa ser composto das tradicionais trilhas de "susto" que vemos por aí. Enfim, um filme genial e brilhantemente construido e conduzido, em todos os seus detalhes.28 semanas depois (28 Weeks Later), a infecção está totalmente controlada. Os infectados todos morreram e a população pode voltar ao seu país de origem. Os EUA tomam conta do território, encarregados de que a infecção não volte. Eles criam uma área isolada e segura, preparada para a emergência de uma nova infecção. Esta é a história de Extermínio 2. Mas logo as coisas saem do controle novamente, e os soldados descobrem que não estavam tão preparados quanto pensavam. Aqui o ritmo da trama é totalmente diferente do primeiro. Agora o mote é a ação frenética, o caos e a fúria. Nesta perspectiva, as reações e emoções humanas são menos exploradas. É o horror o tempo inteiro. Não que isto seja ruim. Mas o primeiro filme conseguia se aproximar mais de uma reflexão. Aqui é pura ação. Mesmo assim o filme é muito bom, continua de forma perfeita o primeiro, e mantém a temática em alta.
Saindo um pouco dos gêneros mais pesados, recentemente um filme de comédia conseguiu revolucionar a temática dos zumbis no cinema. Trata-se de Zumbilândia, filme que parte da mesma premissa dos filmes anteriores, ou seja, uma terra infectada e devastada por zumbis, poucos sobreviventes se escondendo pelos cantos e fugindo sempre, etc. Mas aqui a abordagem é diferente. O personagem principal é um jovem sobrevivente de todo esse caos, vivido pelo ator Jesse Adam, que cria um livro de regras de como sobreviver num mundo rodeado por zumbis. À medida que apresenta suas regras, sempre de forma bem humorada, ele conhece Albuquerque, vivido pelo grande Woody Harrelson, em uma atuação como sempre bem humorada, e juntos são assaltados por duas belas moças. Em busca de recuperar suas coisas, ambos vão atrás das moças e toda a confusão começa quando elas decidem ir a um parque de diversões, atraindo todos os zumbis das redondezas.
A idéia de se estar totalmente sozinho no mundo é aqui muito bem explorada, e o que quatro jovens fariam num caso desses? Aproveitar a vida, claro. Esta é a grande sacada do filme, com cenas bem boladas, como na parte em que eles entram na casa de Bill Murray, e dão de cara com o próprio se fingindo de zumbi pra espantar os outros. Humor negro aqui é o que não falta, e o filme promete diversão do início ao fim para quem gosta do gênero. Comédia ou ação, terror ou suspense, o caso é que os filmes de zumbi já se tornaram um gênero totalmente a parte do cinema de hollywood, e que esperamos tenham vida longa nas telonas. Enquanto durar a humanidade, claro!