Já perceberam que no cinema moderno ocidental há uma quase total ausência de heróis negros? Podemos nunca ter parado para pensar nisto, mas o padrão de herói para a sociedade ocidental varia em vários aspectos, temos heróis jovens, velhos, magros, musculosos, loiros de olhos azuis e morenos de olhos castanhos, mas num ponto estes padrões não variam: são sempre brancos. Basta assistirmos aos principais filmes de super-heróis de hollywood ou pegar as principais HQ's do mercado para percebermos isto.
A raça negra é totalmente excluída e ignorada neste processo. Quando muito fazem uma ponta nos filmes. Mas na contramão da corrente, um francês resolve fazer um desenho animado sobre um pequenino garoto africano, negro, que vive em uma aldeia africana, e é muito corajoso e inteligente. Estamos falando de Kirikú, personagem principal do filme Kirikú e a Feiticeira, desenho animado produzido por Michel Ocelot, baseado em um conjunto de lendas africanas.
O filme conta a história do menino Kirikú, um garoto que nasce em uma aldeia que vive ameaçada por uma maldosa feiticeira, Karabá. Ela devora os homens da aldeia, seca a fonte de água que abastece a aldeia e ainda obriga as mulheres a entregarem todas as suas jóias, e ninguém tem coragem de enfrentar a poderosa feiticeira. Mas Kirikú é um garoto minúsculo e muito inteligente, que não para de perguntar a todos na aldeia porque a feiticeira é tão malvada. Sem obter respostas, Kirikú parte em busca de seu avô, um sábio que vive além das montanhas, para saber porque a feiticeira Karabá é tão malvada, e quem sabe assim descobrir um modo de derrotá-la e livrar sua aldeia.
Com uma linguagem simples, este desenho mostra um pouco da vida tradicional africana, e trabalha com a idéia de como nascem os mitos, quando preferimos acreditar nas coisas que ouvimos, ao invés de buscarmos a verdade. Aqui entra o personagem de Kirikú, que não se contenta com o que lhe dizem, mas vai atrás para conhecer os fatos e assim saber como realmente as coisas são. Este filme é um tratado sobre a verdade e o conhecimento, excelente para mostrar um pouco das lendas africanas, tão desconhecidas do ocidente, e inserir o negro como personagem no cinema, já que ele sempre foi tão excluído.