Não costumo falar muito de política por aqui. Isso não significa que eu não entenda ou não acompanhe o que rola na política em nosso país, simplesmente é um assunto que normalmente não me deixa com vontade de escrever, ou talvez seja porque não me arrisco a falar de assunto tão delicado e controverso, deixo para os especialistas. Mas eis que o recente quadro político nacional me fez pensar em algumas coisas que gostaria de compartilhar com vocês.
Ontem tivemos o primeiro turno das eleições, e como era mais ou menos previsto, deu 2° turno entre Dilma e Serra. Digo que era mais ou menos previsto pois, apesar da maioria das pesquisas apontar que Dilma ganharia no primeiro turno, desde os mais recentes debates eu já imaginava que isto não se concretizaria. O principal motivo pra isso se chama Marina Silva, que conquistou grande parte do eleitorado dos dois candidatos, sedentos por fugir desta polarização Dilma/Serra, sedentos por uma nova opção. Admiro muito Marina, acho que suas idéias sobre meio-ambiente fizeram a população refletir sobre vários pontos desta questão, hábitos e atitudes que temos que mudar se quisermos preservar nosso planeta e nossa espécie. Admiro sua preocupação e concordo plenamente em bater tanto na tecla ambiental, afinal de contas, nosso planeta está mudando e todos nós já estamos sentindo os impactos de tanta degradação ambiental. É uma questão de sobrevivência.
Por outro lado, várias questões e pontos de vista me preocupam em Marina Silva. Infelizmente sua opção religiosa (evangélica) limita sua visão sobre muitas questões sociais importantes, como a liberação do aborto em casos de estupro, a união civil entre homossexuais e as pesquisas com células-tronco, além de muitas outras questões das quais, influenciados por sua visão religiosa, os chamados "crentes" tem posições extremamente retrógradas e conservadoras. Imagino a posição que um evangélico teria, por exemplo, em relação às religiões de matriz-africanas, as quais grande parte do segmento evangélico persegue todos os dias, ou sobre a educação, como poderiam influenciar nos ensinos de história e biologia, obrigando professores a eliminar discussões sobre darwinismo, por exemplo, ou implantando um ensino religioso para "catequisar" nossas crianças desde pequenas. Só de imaginar tais possibilidades já é motivo suficiente para me desesperar ante a possibilidade de termos um presidente evangélico em nosso país.
Felizmente, parece que o estado laico se salvou dessa vez. Dilma e Serra, apesar de se dizerem católicos, não tem maiores ligações com a Igreja, nem deixaram qualquer brecha para pensarmos que se deixariam influenciar por sua religião na hora de tomar as decisões. Mais do que um embate entre dois candidatos, esta disputa é um embate entre dois partidos que já fizeram história em nosso país. Não se trata, portanto, de votar simplesmente na Dilma ou no Serra. Mas sim de votar no PSDB ou no PT, de escolher qual o modelo de governo queremos para os próximos oito anos. Fazendo um rápido retrocesso, sem recorrer a dados nem qualquer pesquisa, o que marcou a história desses dois governos?
O governo FHC foi marcado pela estabilização de nossa economia através do Plano Real, uma moeda forte e sólida, que acabou com a inflação e colocou nossa economia no rumo certo. Por outro lado, FHC ficou conhecido também por implantar à risca a cartilha neoliberal em nosso país. Pra quem nunca teve aula de teoria política, a teoria neoliberal é uma herdeira direta do liberalismo, teoria econômica que pregava a não intervenção do Estado na economia, ou seja, o governo deve deixar que as próprias leis de mercado regulem a economia. Além disto, a cartilha neoliberal tem uma série de outras recomendações, como privatizações em todas as áreas. e FHC seguiu à risca esta cartilha. Vendeu várias empresas que eram do governo, nas áreas de geração de energia e telefonia, entre outras. Na área da educação, FHC investiu pouco ou nada no ensino superior no Brasil, deixando as Universidades Federais num total descaso. Ao contrário, ele incentivou a abertura de faculdades particulares, que se multiplicaram, dificultando ainda mais o acesso à educação pelas familias de baixa renda. Na área social,movimentos sociais eram criminalizados, e não havia espaço para o debate com as minorias, como o movimento negro nem de mulheres por exemplo. FHC e o PSDB fizeram um governo voltado para as elites, deixando de lado as classes baixa e até mesmo a classe média, a mesma classe média que hoje faz campanha para o Serra.
No governo Lula, a estabilidade econômica foi mantida, ao contrário de todos os prognósticos terroristas que diziam que o PT iria dar calote na dívida externa e colocar a economia do Brasil no buraco. Lula não fez nada disto, pelo contrário, solidificou ainda mais nossa economia, gerando empregos (estima-se que foram quase 9 milhões de empregos gerados por Lula, contra pouco mais de 800 mil na era FHC), aumentando nosso PIB e a taxa de crescimento do país (de pouco mais de 2% na era FHC para uma média de 3,5% ao ano). As empresas estatais, ao contrário do que acontecia no governo FHC, foram valorizadas e tiveram crescimentos consideráveis. A Petrobrás por exemplo hoje é uma das maiores e mais sólidas empresas de nosso país, tanto é que ações da petrobrás hoje são um dos melhores investimentos do mercado. Na área educacional, os avanços foram notórios. O investimento na manutenção e reforma das universidades existentes e a construção de novas universidades e centros tecnológicos. Só em Goiás foram quase 10 novos campus do CEFET construídos, espalhados pelo estado, além da construção e reforma de novos prédios da UFG, novas e modernas salas de aulas, além de um imenso Centro de Eventos.
Leis importantes foram aprovadas, como a obrigatoriedade do ensino de história da Àfrica e do negro no Brasil, na tentativa de conscientizar desde cedo nossas crianças de nossa herança africana e da importância que teve e tem o povo negro em nossa história, numa tentativa de diminuir o racismo que é tão latente em nossa sociedade. A política de cotas em universidades é outra lei importante que pretende dar mais oportunidade para pessoas negras poderem cursar uma faculdade, visando melhorar as condições de vida dessa população, em sua maior parte integrantes das classes C e D, e que por conta do racismo cruel que vigora em nosso país, tem menos oportunidade de trabalho e de subir na vida do que uma pessoa branca nas mesmas condições. Isso demonstra que as minorias foram ouvidas e tem vez no governo do PT. Continuando no campo social, medidas sociais como o programa Fome Zero foram um dos grandes pilares do governo Lula. Lula implantou e fez funcionar o maior programa social jamais realizado por aqui, que é o bolsa-família, dando à população de baixa renda a oportunidade de sair da miséria, gerando renda e consumo, mesmo que baixos, a estas famílias (clique aqui para uma análise mais detalhada do programa Bolsa-Família). Enfim, Lula e o PT governou para o povo, para as classes baixas e médias, que hoje tem mais poder de compra do que tinham há oito anos atrás.
Portanto, cabe a nós escolher qual o modelo de governo queremos para o nosso país. Não se trata de votar no Serra ou na Dilma apenas. Trata-se de votar no PT ou no PSDB, e no projeto político que cada um deles tem para o nosso país, já deixados claro em seus respectivos governos.