17 de set. de 2011

Doentes são os outros


Quem nunca se surpreendeu atravessando a rua para evitar cruzar com um negro vindo em nossa direção? Ou lançando um olhar torto para alguém que julgávamos ser homossexual? O preconceito está disseminado em nossa sociedade, e esta praga acaba nos afetando às vezes quase sem querer. Imagine então a vida de um homossexual durante os anos 60 e 70? Tal preconceito devia ser muito pior do que hoje. Este é exatamente o tema do filme Milk, protagonizado por Sean Penn. Ele interpreta de forma brilhante Harvey Milk, primeiro homossexual a ser eleito a um cargo público nos Estado Unidos, em meados da década de 70.



A trajetória de Milk demonstra todo o ódio e preconceito de uma sociedade contra as minorias, e mais especificamente contra aqueles que tem uma orientação sexual diferente. Suas lutas e dificuldades são retratadas de forma cruel em tela, fazendo com que suas vitórias sejam comemoradas esfusiantemente pela platéia. Além disto, o filme é muito bem cuidado. Atores jovens como James Franco (O Duende Macabro do filme Homem-Aranha 3), Emile Hirsh (O Speed Racer), e o ator mexicano Diego Luna dão um show de interpretação, com personagens fortes e marcantes. Mas quem brilha mesmo é Sean Peann. Sua atuação está totalmente diferente de todos os papéis que já o vi fazer. Contido, bem cuidado, Sean Penn encarna a homossexualidade de uma forma leve e descontraída, sem soar forçado em momento algum. Assim, ele carrega o filme nas costas, e nos desperta para o perigo e a atualidade dos preconceitos e visões deturpadas que temos daqueles que são diferentes de nós.



O filme toca ainda em outros pontos vitais, como o fanatismo religioso e a visão medíocre, deturpada, distorcida e intolerante que as religiões cristãs, especialmente as pentecostais, têm em relação ao homossexualismo, colocando tudo em nome de seu deus, claro. As campanhas difamatórias promovidas por estes grupos na década de 70 são mostradas no filme de forma clara, inclusive com trechos de gravações de TVs da própria época, que mostram candidatos e políticos evangélicos promovendo uma verdadeira "caça às bruxas" aos homossexuais, chegando inclusive ao absurso de negar a estas pessoas direitos inalienáveis do homem, como o direito à liberdade. Uma destas campanhas, por exemplo, visava fazer com que professores assumidamente homossexuais fossem demitidos, por estarem pervertendo as crianças nas escolas.



A reação no entanto não tarda. Milk e seus companheiros organizam passeatas e lutam até o fim contra a discriminação, o preconceito e a intolerância. Harvey Milk acaba se tornando um exemplo de alguém que dedicou sua vida à esta causa, e se insere no rol de homens como Martin Luther King, que sempre lutaram contra o preconceito e a discriminação. Ver e conhecer a história de vida deste personagem tão marcante, e que conhecemos tão pouco, é algo bonito e enriquecedor, e que devia ser praticado por todos aqueles que acreditam que um mundo igualitário e fraterno é possível. Milk é um exemplo de filme com conteúdo político e denúncia social, e ao mesmo tempo uma homenagem a todos aqueles que dedicam suas vidas às causas nobres, mesmo que sejam eles tão poucos nos dias de hoje.

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