29 de set. de 2009

Dança com Lobos e as Fronteiras Culturais

As discussões sobre o que convencionamos chamar de fronteiras culturais estão em voga nos dias de hoje. Podemos dizer que o mundo hoje é quase que definido por estas fronteiras entre culturas que estão em constante contato, contato este que gera inúmeras situações de conflitos. Basta olharmos para as guerras religiosas entre árabes e judeus, a luta pela emancipação dos povos Bascos na Europa e os conflitos étnicos na África para entendermos do que estou falando.

Mas estes conflitos não começaram com a globalização apenas no século XX. Eles vem de muito mais tempo, tem raízes muito mais profundas, e seu auge foi a colonização, quando o Novo Mundo é inventado, um mundo de culturas diferentes. No contato entre brancos e índios, por exemplo, a este último são associados conceitos de inferioridade, selvageria, barbárie, em oposição à civilização, ao avanço e progresso do homem branco. Este é imbuido de uma missão então, a de civilizar o índio, levar a ele os valores do progresso ocidental. Esta relação de superioridade é o que marca todo o processo colonial nas Américas.

Este é precisamente o tema do filme Dança com Lobos. As fronteiras culturais entre brancos e índios na formação dos Estados Unidos da América são brilhantemente retratadas neste épico, que se tornou um clássico do cinema hollywoodiano. Aqui os conceitos de civilizado e selvagem são rediscutidos, e ao final da película só nos resta a pergunta: quem é quem nesta história? Brilhantemente dirigido e estrelado por Kevin Costner, o filme mostra a história do tenente do exército americano Jonh Dunbar, que após se tornar um herói de guerra, pede transferência para a fronteira do oeste, um lugar dominado por grupos indígenas. Ao se estabelecer e assumir seu posto, o tenente passa a ter contato com um grupo de índios Sioux, e este contato acaba lhe revelando que as diferenças culturais entre eles são muito mais profundas do que imaginava, e acabam por lhe revelar quem são realmente os selvagens da história.

Isto demonstra como os conceitos de bem e mal, de civilizado e selvagem, de avanço e atraso são definidos pelos grupos dominantes. Ao se defrontar com o desconhecido, com o "outro", o homem branco estabelece estas relações, e o outro, o diferente, passa a receber toda esta carga negativa, gerando inúmeros preconceitos e discriminações. Esta é a raiz dos conflitos culturais de hoje e de sempre. No filme fica demonstrado que estes conceitos podem ser distorcidos e até mesmo invertidos. Relacionar o "outro" a conceitos negativos apenas por ser diferente nem sempre corresponde à realidade. Tudo depende do lado de que se está olhando...

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